Encontro um banqueiro meu conhecido após o
jogo da Copa. Ficou em um dos camarotes VIPs, ao lado de personalidades
como Gilmar Mendes. Foi com a namorada ao Itaquerão. Ambos
estavam impressionados com a qualidade do estádio, com a limpeza dos
banheiros, com a beleza e relevância do evento. Até Lázaro Brandão, o todo-poderoso presidente do Conselho do Bradesco, esteve presente, me diz ele.
Tudo funcionou a contento, disseram-me, o trânsito (que
depende da Prefeitura), o Metrô (que depende do estado), o estádio (cuja
construção foi apoiada pelo governo federal). Enfim, motivo geral para
espalhar pelo mundo uma imagem mais positiva do país. Apenas um dado falhou, para vergonha de São Paulo: o nível das vaias à presidente da República. - Não era povão. Veio das alas VIPs e foi constrangedor.
O momento mais baixo da Copa, o episódio
que manchou a imagem do país no mundo partiu daquele segmento que
Cláudio Lembo chama de “elite branca”. Mas, como bem observou um de
nossos comentaristas, não os trate como elite. Elite pressupõe um
estágio intelectual e moral superior. São Paulo tem uma elite intelectual, médica, tecnológica. Os que se manifestaram representam apenas a selvageria empetecada, os black blocs com grife. O caráter de um jornal é dado pela soma individual dos seus colunistas e pela linha editorial. Hoje, o episódio foi lamentado pelos
maiores cronistas esportivos, timidamente em suas colunas, mais
acerbamente em seus blogs. Mas são pontos fora da curva.
A baixaria contra uma presidente da
República, uma mulher digna, não mereceu condenação dos jornais, mas a
celebração em suas manchetes. O grito: “Dilma vai tomar no c…”
torna-se, a partir de agora, o símbolo máximo do enorme poder de que
dispõe a mídia para influenciar o baixo clero da “elite branca”. São incapazes de separar a crítica ao
estilo dos ataques pessoais. Não é por nada que tornaram José Serra seu
herói predileto. Qualquer coisa vale na disputa política, principalmente
abrir mão de ideias e recorrer aos ataques mais baixos.
Os jornalões tornaram-se a versão moderna
e adaptada do Flautista de Hamelin. O flautista levava os ratos para o
rio e os afogava. Os jornais levam os ratos para o mundo - e os
celebram.
Não foi por outro motivo que a parte do
evento que mais impressionou a colunista social do Estadão foram alguns
banheiros entupidos. Na verdade, havia pouco banheiro para a m… que jorrou dos camarotes, estimulada pelos neoflautistas de Hamelin.
Fonte: Originalmente publicado aqui: http://jornalggn.com.br/noticia/as-vaias-a-dilma-e-os-neoflautistas-de-hamelin
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