Um editorial da Folha de 17 de fevereiro passado tenta reescrever a historia a partir da redação do jornal: no Brasil não houve ditadura militar do tipo sanguinário que se viu no Chile ou na Argentina. Aqui a ditadura foi ‘branda’, o que o jornalão chama de ‘ditabranda’.
Não é novidade o cinismo da Folha. Nas páginas do jornal o MST é tido como movimento da baderna, os movimentos sociais urbanos são criminalizados, a luta do movimento negro pelas ações afirmativas recebe uma cobertura criminosa...nem o presidente da República escapa: jornalista da Folha traçou o DNA da família silva para provar uma tal propensão genética do presidente ao consumo alcólico.
Com o novo 'deslize' da Folha, a arquirival Rede Record não perdeu a chance: em uma batalha interessante com a Globo, que tambem é sócia do jornal em um dos seus negocios, a Record saiu na frente e exibiu no ultimo domingo reportagem de 14 minutos no Domingo Espetacular mostrando um escândalo que o Brasil misteriosamente esqueceu: a participacão da Folha de S. Paulo no golpe de 64. Assista o video aqui.
Mas a Folha não está só quando o assunto é o rabo preso com a ditadura. Ainda está por ser feita uma análise dos editoriais dos jornais nos dias que antecederam a ditadura militar no Brasil. Assim como a midia grande se empolgou com a derrubada de Lula no auge da crise do mensalão, naquela época virulentos editoriais do Correio do Povo pediam a deposição de João Goulart, enquanto as Organizações Globo e os Diários Associados forneciam o combustivel ideológico do novo regime.
Longe de ser a TV que o Brasil merece, a Record acerta em mostrar a participação da Folha na ditadura de 64. Caberia agora a luta pela exibição do filme Muito Além do Cidadão Kane (assista aqui), um documentário da BBC de Londres sobre a participação das Organizações Globo na nefasta ditadura. O filme foi censurado no Brasil por pressão da Globo, mas continua online no youtube e é um otimo recurso pedagogico para entendermos a relacão incestuosa entre liberdade de imprensa e ditadura midiática no Brasil contemporâneo.
Com todo o seu elitismo, o debate sobre a verdadeira intensidade da ditadura militar pouco importa para as vastas populações negras brasileiras para quem a ditadura é uma condição permanente: torturas e mortes sob as mãos do aparelho do estado é regra, não é e nunca foi exceção para negros e nordestinos. No entanto, o momento representa uma oportunidade para o Brasil conhecer melhor onde estavam os donos do poder 'quando a luz se apagou'.
E aqui fica a frase de Maria Victoria Benevides, em entrevista a Carta Capital: “O que fazer? Muito. Há a imprensa independente, como esta CartaCapital. Há a internet. Há todo um movimento pela democratização da informação e da comunicação. Há a luta – que sabemos constante – pela justiça, pela verdade, pela república, pela democracia. Onde quer que estejamos.”
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